domingo, 30 de junho de 2013

A gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma com o garoto pedindo esmola na rua. E, porque está acostumado, a rotina faz com que nem o note mais. E, porque não nota esquece a sensibilidade. E, porque não existe mais o que toca o coração, perde a humildade.

A gente se acostuma a sorrir para não transparecer a dor. E, porque sorri sem estar feliz, já não sabe mais qual o sabor de um sorriso verdadeiro. E, porque não lembra como é bom senti-lo, esquece de cativá-lo em outras pessoas. E, esquece de fazer feliz e sentir-se verdadeiramente feliz.

A gente se acostuma de tanto ouvir essas campanhas de agasalho feitas no inverno. E por se acostumar, a gente nem liga mais, o cérebro entra em seu estado automático e nem reconhecemos mais o que significa. E por não notar seu sentido, acabamos por fechar os ouvidos para o “ajudar ao próximo”.

A gente se acostuma por hábito, porque nos acomodamos demais para mudar. E, porque nos acomodamos não vivemos, apenas estamos vivos. E, porque não vivemos, morremos como flores de plástico que nunca exalam perfume algum.

A gente se acostuma a ouvir a chuva sem decifrá-la. E por não ouvi-la em suas mais variadas sincronias de sons perdemos a sensibilidade. E por perder a sensibilidade não notamos nem as pessoas à nossa volta. E por não notar as pessoas, vivemos indiretamente solitários. E por viver dentro de sua solidão nos tornamos egoístas demais para notar o mundo.

A gente se acostuma a ler o jornal e ao fechá-lo não mudar nada em sua forma de pensar. E por não adquirir nenhuma mudança, já não existe mais motivos para ler. E por não ter motivos para ler, os livros são esquecidos. E por esquecê-los é deixado de lado todo o conhecimento escondido por entre as páginas fechadas. E por deixar de lado conhecimentos ricos, é mantida a intelectualidade em estados precários, de forma que, este é o fundamental para o crescimento na vida de todos.

A gente se acostuma a viver atrás do computador. E por se acostumar, esquecemos como é sair para conversar. E porque não é mais preciso sair para manter contato com as pessoas, acabamos por manter-se em um ciclo monótono. E por seguir constantemente neste mesmo ciclo, é esquecido o quanto é valioso um contato pessoal com os amigos.

A gente se acostuma a ouvir as mesmas músicas. E por ouvir sempre as mesmas deixamos de conhecer músicas novas. E por não conhecer novos artistas, deixamos de conhecer novas culturas. E por não conhecermos novas culturas, nos conformamos com o pouco que conhecemos. E por se conformar com este pouco, criticamos aquilo que nem sequer conhecemos.

 Eu sei que a gente vive em uma vida feita de costumes. Mas não devia.

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